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Camila


Distraio-me frequentemente com as horas, mas odeio atrasos, o que pode parecer contraditório. Não é. Faço de tudo para cumprir horas marcadas, mas tenho uma tendência estranha para facilitar com a antecedência com que me preparo para sair, por achar que tenho tempo suficiente para tudo e mais alguma coisa, o que resulta frequentemente em corridas desnecessárias para mudar o calçado, trocar de carteira ou procurar o maldito telemóvel à última de hora. Hoje foi diferente: a Mariana ligou-me a dizer que chegou e estou pronta a sair. Claro que, sendo a Mariana, isso não evitou que levasse com uma piada.
- Mas que bem, estamos cá em baixo no minuto exacto! - provocou ela.
- Não tens assim tanta razão de queixa, - atirei - quando muito atraso uns quatro minutos!
Mariana sorriu. Estava animada. Dava para notar pela voz, que subia sempre para um tom mais agudo quando se entusiasmava. Já a conheço há tantos anos que lhe sei de cor as nuances todas: o tique a enrolar o cabelo quando estava nervosa, o pestanejar muito quando algo a preocupava e a voz a ir por ali acima quando estava entusiasmada.
- Então, conta-me onde é o jantar. - quis saber.
- É naquele italiano novo, na baixa. Abriu há um mês e só agora conseguimos mesa, tem estado impossível de tão concorrido!
- Hum, italiano? Agrada-me! E quem vai? Conheço alguém?
- Conheces a Madalena, que trabalha comigo.
- A loura?
- Sim, essa mesmo. O Tiago é aquele colega do Jaime de quem já te tinha falado e o João é o melhor amigo, como sabes. O Jaime e o João são uma versão masculina nossa– Mariana sorria.
- Sempre juntos?
- Sempre juntos! Olha, como estás?
- Estou bem! Tenho tido muito trabalho, o que é bom!
- Excelente, Milly! Lá pelo escritório também temos trabalhado imenso, tenho saído muito tarde. A Madalena ficou com um caso importante e eu estou a ajudá-la. O chefe decidiu assim e não quis contrariá-lo.
- Mas tu terias mais capacidades para liderar o processo, de certeza!
- Pois, mas foi decidido assim…
- Ela deve andar a dormir com o chefe!

- Estás a ser má…adoro! Não sei de nada, mas não ponho as mãos no fogo! Olha, chegamos.
Mariana estacionou o carro numa rua em frente ao rio. A movida de sexta-feira à noite animava a cidade, enquanto grupos se iam deslocando pelas ruas. Ligou ao Jaime:
- Onde estás?
Duas batidas no vidro do carro assustaram-nos. Era ele.
- Que susto, Jaime!
- Desculpa, querida. – desculpou-se com um beijo. – Como foi o teu dia?
- Melhorou agora… - Mariana deu-lhe mais um beijo enquanto eu saí do carro e me aproximei dos dois.
- Olá Camila! – cumprimentou ele.
- Olá, Jaime, como estás?
- Estou ótimo. Ainda bem que vieste, não tem sido muito fácil tirar-te de casa ultimamente…
Mariana deu-lhe uma cotovelada discreta.
- Ah, pois…tenho tido muito trabalho -  respondi.
- Mas isso é ótimo. Algum best seller famoso?
- Por acaso tenho entre mãos a tradução de um romance americano, mas como ainda não foi editado cá é confidencial.

- Espero o lançamento, então!
Seguimos os três pela rua em direcção ao restaurante, que distava uns duzentos metros dali. À porta estava um grupo de quatro pessoas que conversavam animadamente. Jaime aproximou-se e cumprimentou um deles com um abraço apertado.
- Então, pá, como estás?
- Tudo óptimo, e tu, amigo?
Mariana começou a tratar das apresentações:
- Camila, esta é a Joana e este é o Tiago, são irmãos.
A Joana cumprimentou-me e o Tiago seguiu-lhe o exemplo.
- Esta é a Madalena, com quem acho que já estiveste uma vez numa festa lá do escritório. - a Mariana estava empenhadíssima na tarefa de me integrar ali.
- Olá, Camila! – sorriu-me ela afectadamente.
- Olá! – retribuí. Continuava tal como me lembrava: loiríssima, com uma maquilhagem sofisticada e vestida de forma a parecer saída de uma capa de revista. Mariana interrompeu-me os pensamentos:
- E este é o João.
Foi aí que o vi. Tinha agora diante de mim um homem alto, de olhos verdes e cabelo castanho. Tinha um sorriso aberto e perfeito e vestia de forma casual. Tudo bem que Mariana já me tinha dito que ele era bonito, mas caramba, nunca pensei que fosse bonito a este ponto.
- Olá, João. Prazer… – aproximamo-nos mais para nos cumprimentarmos e senti um arrepio: ele cheirava maravilhosamente bem.
- Olá! O prazer é meu. Camila, certo? – fixou aquele verde todo em mim e senti-me derreter.
- Sim…
Jaime interrompeu-nos.
- Vamos entrar? Temos mesa reservada e não convém chegarmos atrasados, pois podemos perdê-la.











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